Lideranças religiosas se unem para debater a relação com o clima
Em um círculo, representantes do judaísmo, da umbanda, muçulmanos e outras crenças trocavam experiências sobre a relação com a terra. O encontro foi promovido em sintonia com o Balanço Ético Global da COP30, que pretende incluir a diversidade cultural na mobilização contra a mudança do clima. Ouça reportagem especial e saiba mais.
14/08/2025
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Reportagem: Mayara Souto / COP30

Locução: Bárbara Bezerra / COP30

Repórter: Axé. Amém. Namastê. Ubuntu. Fé. Essas eram algumas palavras com referência religiosa que estampavam uma grande faixa, estendida em meio a um círculo de pessoas com diversos credos. Todas com uma crença em comum: é preciso unir forças para enfrentar a crise climática. A relação entre a fé e o clima, em meio a preparação para a COP30, foi o mote do encontro intercultural “Fé no Clima”, realizado no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. Mirim Ju Yam, da etnia Guarani, abriu a roda de conversa relembrando a relação ancestral e sagrada dos povos indígenas com a terra. 

Mirim Ju Yam: Na nossa cultura está a semente da preservação, da vida em harmonia com a terra e o entendimento que a natureza não é aquilo lá fora. A natureza não é objeto. A natureza é tudo que existe.  

Repórter: O som do tambor e a fumaça de ervas defumadas também fizeram parte da cerimônia, marcando a presença das religiões de matriz africana. Mãe Cícera de Oxum destacou a ligação da Umbanda e do Candomblé com os elementos naturais.

Mãe Cícera da Oxum: Sem florestas, sem matas, não existe religião. Todos os nossos deuses são da natureza. 

Repórter: Omar Lakis, representante muçulmano do Instituto de Estudos da Religião (ISER),  ensina que  conexão com a natureza também está  no Alcorão, livro sagrado muçulmano. Ele contou que o profeta Maomé ensinava a seus seguidores lições de preservação ambiental. 

Omar Lakis: Eles economizam água, mesmo com água em abundância, economizavam alguns recursos. Tem uma palavra para isso que se chama ruma, que é você ter o costume de usar o seu necessário.

Repórter: Membro da comunidade judaica, Ida Katz Carraly, relembra prática milenar recomendada na Torá, escritura judaica.

Ida Katz: A gente está aqui pra cuidar da Terra. E isso a gente vê em todas religiões, e religiões muitas vezes com até mais ligação com a Terra. Eu acredito que quando todos nós nos unirmos deixamos de ser minorias e passamos a ser uma maioria muito positiva.

Repórter: O evento Fé no Clima 2025 ocorreu em sintonia com o Balanço Ético Global (BEG), criado pela presidência da COP30. A  proposta é realizar uma escuta ética e planetária sobre a crise climática, reunindo lideranças sociais, políticas e empresariais. A CEO da COP30, Ana Toni, prestigiou a cerimônia e comentou que o encontro inter-religioso fortalece a ideia de mutirão. 

Ana Toni: A gente tem falado e chamado esse grande mutirão de combate à mudança do clima, que todos participem. Mas, acho que depois desse evento, eu diria que a COP30 é um grande mutirão, mas também uma grande comunhão. 

Repórter: Quem também participou do evento foi a  ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ela ressaltou a importância da diversidade cultural e de crenças no chamado à ação climática com ética.

Marina Silva: Que cada um saia daqui, nas suas mais diferentes formas de crer, com alvos para essa COP. É tanta coisa que a gente tem que negociar e que resolver, e eu espero que o Balanço Ético possa trazer todas as verdades inconvenientes que, às vezes, os governos, as empresas e o setor financeiro não querem ouvir.

Repórter: O encontro mostrou que, independentemente da fé, o cuidado com o planeta é um compromisso comum.