A princesa Isabel assinou a Lei Áurea. A pena que validou o documento foi esculpida com admirável primor. Os visitantes do Museu Imperial de Petrópolis (RJ) podem vê-la deslumbrante, intacta, com o mesmo luxo daquele 13 de maio de 1888. Aos olhos dos apreciadores da história ou dos curiosos, a joia continua brilhando com seus 27 diamantes e 25 pedras vermelhas, que ornamentam delicadamente o ouro maciço.
Após 350 anos de escravidão, os descendentes dos 5 milhões de imigrantes — trazidos, à força, para o país — mereceram apenas um texto com dois artigos. O primeiro foi escrito assim: “É declarada extinta a escravidão no Brasil.” O segundo só complementou: “Revogam-se as disposições em contrário”.
A fim de quebrar os grilhões das senzalas, não se traçou um plano para distribuir terras, alfabetizar os libertos, indenizá-los pelos sofrimentos ou inseri-los na sociedade. Pensaram apenas na solenidade. Esqueceram-se da manhã seguinte.
A jornada humana mostra que o tesouro da liberdade não costuma fulgurar em gabinetes absolutistas. Quem se acostumou a erguer cativeiros, em geral, não sabe moldar asas. A monarquia, os grandes latifundiários e, depois, a república nascente não viram (será?) o Brasil faminto, doente e iletrado.
O tempo não apaga as páginas escritas — é o que vai mostrar, a partir de agora, o Brasil Cultural. Os capítulos de ontem influenciam os personagens de hoje. Há 137 anos, a realidade demonstra que, se a liberdade é um sol, seus raios de dignidade ainda pertencem ao porvir.
A pena de ouro não era mágica.
Ricardo Walter
Créditos
Entrevistas:
1) Historiador Walter Fraga, “Ecos da Escravidão” – TV Brasil (Youtube).
2) Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco – Voz do Brasil.