13 de Maio, o sol do porvir
Após 350 anos de trabalhos incessantes, o regime escravagista foi abolido em território nacional. Os descendentes dos 5 milhões de imigrantes — trazidos, à força, para o país — mereceram apenas um texto com dois artigos. O primeiro foi escrito assim: “É declarada extinta a escravidão no Brasil.” O segundo só complementou: “Revogam-se as disposições em contrário”. A monarquia não se lembrou da manhã seguinte. A lei era áurea – no papel. Saiba mais na transcrição.
09/05/2025
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A princesa Isabel assinou a Lei Áurea. A pena que validou o documento foi esculpida com admirável primor. Os visitantes do Museu Imperial de Petrópolis (RJ) podem vê-la deslumbrante, intacta, com o mesmo luxo daquele 13 de maio de 1888. Aos olhos dos apreciadores da história ou dos curiosos, a joia continua brilhando com seus 27 diamantes e 25 pedras vermelhas, que ornamentam delicadamente o ouro maciço.

Após 350 anos de escravidão, os descendentes dos 5 milhões de imigrantes — trazidos, à força, para o país — mereceram apenas um texto com dois artigos. O primeiro foi escrito assim: “É declarada extinta a escravidão no Brasil.” O segundo só complementou: “Revogam-se as disposições em contrário”.

A fim de quebrar os grilhões das senzalas, não se traçou um plano para distribuir terras, alfabetizar os libertos, indenizá-los pelos sofrimentos ou inseri-los na sociedade. Pensaram apenas na solenidade. Esqueceram-se da manhã seguinte.

A jornada humana mostra que o tesouro da liberdade não costuma fulgurar em gabinetes absolutistas. Quem se acostumou a erguer cativeiros, em geral, não sabe moldar asas. A monarquia, os grandes latifundiários e, depois, a república nascente não viram (será?) o Brasil faminto, doente e iletrado.

O tempo não apaga as páginas escritas — é o que vai mostrar, a partir de agora, o Brasil Cultural. Os capítulos de ontem influenciam os personagens de hoje. Há 137 anos, a realidade demonstra que, se a liberdade é um sol, seus raios de dignidade ainda pertencem ao porvir.

A pena de ouro não era mágica.

Ricardo Walter

Créditos

Entrevistas:

1) Historiador Walter Fraga, “Ecos da Escravidão” – TV Brasil (Youtube).

2) Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco – Voz do Brasil.