Carlos Chagas, o médico dos trópicos
Médico, humanista, desbravador e pioneiro, Carlos Chagas é autor de um feito prodigioso, ainda hoje inigualável na história da ciência. Sozinho, conseguiu mapear todo o ciclo de uma doença. A façanha não é recente: data de 1909, quando o mundo ainda nem sonhava com a Era Digital e suas facilidades tecnológicas.
30/05/2025
|
09:06
compartilhar notícia
Ouça na íntegra:
Download
transcrição

Ainda que se procurasse no mundo inteiro um pesquisador que tivesse descoberto sozinho o agente etiológico, o inseto transmissor, o ciclo de difusão e os sintomas de uma doença, essa figura só poderia ser encontrada na história do Brasil.

Em duas oportunidades, ele foi indicado para o Prêmio Nobel de Medicina. Os jurados do Instituto Karolinska, na Suécia, decidiram não condecorá-lo. A ausência dessa láurea, porém, em nada afetou a trajetória do médico, pesquisador e legítimo homem de ciência. Seus feitos incontáveis estão inscritos nos surtos de malária que ajudou a vencer, no combate à gripe espanhola, na fundação da Escola de Enfermagem Anna Nery, na criação do curso de Medicina Tropical e na administração do Instituto Oswaldo Cruz.

O notável infectologista honrou o Juramento de Hipócrates, pois foi um médico na acepção da palavra — jamais um mercador da medicina. Numa era de Louis Pasteur e de Robert Koch, o Brasil também tinha o que dizer ao mundo por meio de Carlos Ribeiro Justiniano Chagas.

No clima abrasador das matas do antigo povoado de Lassance (MG), ele improvisou modesto laboratório na estrutura de um vagão de trem e, por microscopia, viu o Trypanosoma cruzi no intestino do barbeiro. Em 1909, observou o parasita no sangue de uma menina de 2 anos. Não restavam mais dúvidas: a humanidade estava diante de uma descoberta extraordinária — a doença de Chagas.

Ao conhecer a Floresta Amazônica e os sertões, o nosso personagem notou que o país era “um hospital a céu aberto”. Sem que ninguém o contasse, presenciou uma nação vulnerável e desnutrida. Carlos Chagas desenvolveu acurada percepção da realidade, não apenas por sua vasta formação, que também o permitia atuar como bacteriologista e sanitarista, mas sobretudo pela capacidade de ler o livro da natureza. Por isso, o Brasil Cultural lhe oferece o singelo epíteto: “médico dos trópicos”.

Como forma de homenagear o clínico que se aproximava do leito e ouvia as queixas de seus pacientes, o episódio de hoje apresenta um roteiro para transmitir aos ouvintes conhecimento e emoção.

Ricardo Walter

Créditos

Entrevista:

1) Infectologista Edimilson Migowski, “De Lá Pra Cá” – TV Brasil (Youtube).