Os pincéis místicos de Portinari
O Brasil Cultural desta semana apresenta o segundo episódio dedicado à trajetória e à obra de Portinari. Saiba mais sobre o artista que pintou a religiosidade, as alegrias, os sofrimentos e a história do povo brasileiro.
15/08/2025
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O mundo já passou pelos mais diversos tipos de segregação: o regime de castas na Índia; o colonialismo nas Américas; o antissemitismo na Alemanha nazista; o sionismo (chaga ainda aberta) no Oriente Médio; o apartheid na África do Sul; e a Lei Jim Crow nos Estados Unidos. A lista é extensa. Pesquisadores podem recuar ao passado longínquo para constatar que a discriminação está longe de ser um fato novo. Que o diga o Império Romano, com seus carros de triunfo e suas águias dominadoras.

Há, em todos esses regimes e eventos, uma concepção escancarada: a do sentimento de superioridade. De todas as formas, agigantam-se os esforços para fincar a bandeira da hegemonia política e religiosa no ideário e nas fronteiras alheias. Os supremacistas, ainda hoje, prestam grande serviço para a indústria bélica, uma vez que provocam e sustentam as cifras astronômicas da guerra.

Impulsionadas pelos conflitos na Ucrânia e em Gaza, as vendas de armas e serviços para uso militar cresceram 4,2% em 2023. O lucro chegou à casa dos US$ 632 bilhões, algo em torno de R$ 3,4 trilhões. O superávit envolve, globalmente, as 100 maiores empresas do setor. As informações estão presentes no relatório publicado, em 2024, pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo.

O derramamento de sangue é o efeito de convicções contrárias à vida ou, caso prefiram, das soluções a favor da morte. Independentemente da definição, vigem erros que alimentam os conflitos intermináveis. Sob o ponto de vista da ciência, falar de pureza racial constitui uma afronta aos fatos. De acordo com o Projeto Genoma, concluído em 2003, 99,9% do DNA humano é idêntico entre todas as pessoas do planeta.

Na perspectiva da cultura, Caetano Galindo, no livro “Latim em pó”, aponta, conforme os estudos mais recentes, que a maioria dos idiomas da Europa e de parte da Ásia descende de uma mesma língua ancestral, cujas origens remontam a milhares de anos. As exceções seriam o hebraico e o árabe, ambos de matriz semítica. Embora a conjectura ainda não tenha sido ratificada por linguistas e filólogos, essa hipótese sinaliza, por exemplo, graus de irmandade entre o sânscrito, dos Vedas indianos, e o latim, da tradição cristã no Ocidente.

Do raio solar, matizado em múltiplas frequências, à reprodução dos seres orgânicos, passando pelo crivo das artes, das crenças, das filosofias e das ciências, tudo progride a partir do encontro entre as diferenças. Em nada há pureza absoluta, no sentido natural e sociológico.

Sendo assim, o Brasil Cultural apresenta o segundo episódio sobre a vida e obra do homem que – ao misturar as tintas – pintou, com orgulho, o Brasil miscigenado e religioso, em respeito e fidelidade à natureza do próprio povo. Nas telas, vibra uma mensagem para o mundo.

Com vocês, “Os pincéis místicos de Portinari”.

Por Ricardo Walter