Paris, 2014. Exposição: painéis “Guerra e Paz”, de Portinari.
O evento se desenvolvia sob o abrigo do Grand Palais, a soberba arquitetura feita de pedra, vidro e aço, primorosamente instalada no país de Monet e Renoir. De um lado, os Champs-Élysées, com seus cafés e teatros; do outro, o rio Sena, a ostentar suas águas navegáveis, de onde cidadãos do mundo inteiro apreciam a Torre Eiffel, a Catedral de Notre-Dame e o Louvre.
Em grande estilo, a obra do gênio brasileiro era apresentada novamente na Europa. A mensagem grandiloquente exibia, em contraste, os horrores da guerra e os acalantos da paz. Em meio à exposição, uma jornalista francesa abordou João Candido Portinari. Queria saber sobre aquele homem que a deixara embevecida com os requintes de sua arte.
O filho do artista, então, convidou-a para percorrer a linha do tempo, pois não basta apreciar os efeitos dos pincéis; é preciso conhecer o engenho, a história, a inteligência por trás da obra. A proposta, de imediato, foi aceita. Retornaram, então, a 1940, quando o Museu de Arte Moderna de Nova York apresentou a exposição “Portinari do Brasil”. Em seguida, foram a 1946, ano da exposição dos quadros e desenhos das séries “Retirante” e “Meninos de Brodósqui” na Galeria Charpentier, em Paris. Na oportunidade, o governo francês entregou ao pacifista a Legião de Honra. Um dos maiores poetas franceses do século XX, Louis Aragon, prestigiou a cerimônia.
A jornalista foi tomada por um sentimento de admiração e assombro. Diante dos fatos, não fora possível estancar a comparação que lhe ocorreu, inesperada:
– Mas, então, podemos dizer que Portinari é o Picasso brasileiro?
Solícito, o porta-voz acrescentou algo ao raciocínio:
– Claro que a senhora pode dizer isso, contanto que diga também que Picasso é o Portinari espanhol.
“Ela me olhou como se eu tivesse dito um palavrão, uma heresia”, contou João Candido, em entrevista exclusiva ao programa.
Liberdade, igualdade e fraternidade – o lema da famosa revolução só faz sentido quando um povo olha para o outro sem laivos de superioridade.
O reconhecimento do valor da própria cultura é antídoto para qualquer ato de subserviência, seja no campo econômico, político ou diplomático. A altivez não é mera retórica, mas um estado de brio.
Ciente da justeza do título, o Brasil Cultural apresenta “Portinari: brasileiro e universal”.
Ricardo Walter