Portinari: brasileiro e universal
No Brasil Cultural desta semana, vamos conhecer a história do pintor Candido Portinari, o emissário da paz que imprimiu em suas obras a substância viva do sentimento humanista. Saiba mais agora sobre o primeiro de dois episódios que revelam detalhes sobre a vida do gênio.
08/08/2025
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Paris, 2014. Exposição: painéis “Guerra e Paz”, de Portinari.

O evento se desenvolvia sob o abrigo do Grand Palais, a soberba arquitetura feita de pedra, vidro e aço, primorosamente instalada no país de Monet e Renoir. De um lado, os Champs-Élysées, com seus cafés e teatros; do outro, o rio Sena, a ostentar suas águas navegáveis, de onde cidadãos do mundo inteiro apreciam a Torre Eiffel, a Catedral de Notre-Dame e o Louvre.

Em grande estilo, a obra do gênio brasileiro era apresentada novamente na Europa. A mensagem grandiloquente exibia, em contraste, os horrores da guerra e os acalantos da paz. Em meio à exposição, uma jornalista francesa abordou João Candido Portinari. Queria saber sobre aquele homem que a deixara embevecida com os requintes de sua arte.

O filho do artista, então, convidou-a para percorrer a linha do tempo, pois não basta apreciar os efeitos dos pincéis; é preciso conhecer o engenho, a história, a inteligência por trás da obra. A proposta, de imediato, foi aceita. Retornaram, então, a 1940, quando o Museu de Arte Moderna de Nova York apresentou a exposição “Portinari do Brasil”. Em seguida, foram a 1946, ano da exposição dos quadros e desenhos das séries “Retirante” e “Meninos de Brodósqui” na Galeria Charpentier, em Paris. Na oportunidade, o governo francês entregou ao pacifista a Legião de Honra. Um dos maiores poetas franceses do século XX, Louis Aragon, prestigiou a cerimônia. 

A jornalista foi tomada por um sentimento de admiração e assombro. Diante dos fatos, não fora possível estancar a comparação que lhe ocorreu, inesperada:

– Mas, então, podemos dizer que Portinari é o Picasso brasileiro?

Solícito, o porta-voz acrescentou algo ao raciocínio:

– Claro que a senhora pode dizer isso, contanto que diga também que Picasso é o Portinari espanhol.

“Ela me olhou como se eu tivesse dito um palavrão, uma heresia”, contou João Candido, em entrevista exclusiva ao programa.

Liberdade, igualdade e fraternidade – o lema da famosa revolução só faz sentido quando um povo olha para o outro sem laivos de superioridade.

O reconhecimento do valor da própria cultura é antídoto para qualquer ato de subserviência, seja no campo econômico, político ou diplomático. A altivez não é mera retórica, mas um estado de brio.

Ciente da justeza do título, o Brasil Cultural apresenta “Portinari: brasileiro e universal”. 

Ricardo Walter